Lembro a pergunta que fez:
“Poderia levá-la imediatamente para mim?”
“Posso”, respondo, batendo recordes de concisão, encorajada pela concisão dele e pela ausência de um “por favor” que a forma interrogativa e o uso do futuro do pretérito não deveriam, a meu ver, desculpar totalmente.
“É muito frágil”, acrescenta, “tome cuidado, por favor”.
A conjugação do imperativo e o “por favor” também não me agradam, tanto mais que ele me acha incapaz de tais sutilezas sintáticas e só as emprega por gosto, sem a cortesia de imaginar que eu poderia me sentir insultada. É tocar o fundo do pântano social ouvir, pelo tom de sua voz, que um rico só se dirige a si mesmo e que, embora as palavras que pronuncia sejam tecnicamente dirigidas a você, ele nem sequer imagina que você seja capaz de compreendê-las.
BARBERY, Muriel. A elegância do ouriço. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento).
A linguagem utilizada na interpelação à personagem provocou insatisfação por
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A imprimir brevidade à interação.
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B denotar o desinteresse do interlocutor.
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C revelar uma erudição de difícil alcance.
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D configurar uma forma de expressão formal.
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E desconsiderar a polidez esperada para a situação.